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28 de dezembro de 2016

Como membro docente de uma das faculdades da Universidade de Oxford, tenho a responsabilidade de ser consultor sênior (supervisor) de duas sociedades geridas por estudantes, a C.S. Lewis Society, um grupo de discussão literária e teológica, e a Oxford Students for Life (Alunos pela Vida), um grupo que tem como objetivo promover uma cultura na qual nascituros, deficientes, doentes terminais, e outras minorias vulneráveis têm um lugar.

Nos últimos anos, o grupo pró-vida descobriu o quão profundamente as pessoas em Oxford discordam não só de seu ponto de vista, mas até mesmo sobre o seu direito de existir e realizar reuniões. Numa ocasião, o grupo teve a permissão para sediar um debate sobre o aborto rescindida com apenas algumas horas de antecedência, por causa de uma ameaça de perturbação dos estudantes que se opunham a que sua faculdade sediasse tal discussão.

Noutra ocasião, a oposição foi mais sutil. Fomos interrompidos em meio a uma reunião e aconselhados por um funcionário da faculdade a fechar as cortinas, para que a mulher membro do Parlamento que nos falava sobre o aborto seletivo de gênero, nāo pudesse se vista do pátio. Nossos oponentes fora da sala sentiam que seria mais fácil se nós fôssemos obrigados a nos esconder deles, em vez deles terem que desviar os olhos de nós.

A outra sociedade da qual sou supervisor na faculdade, a C.S. Lewis Society, não tem experimentado nenhum desses desentendimentos com estes adversários da liberdade de expressão no campus. Mas menciono a Sociedade Lewis, porque Lewis é um exemplo útil a ser consultado, quando consideramos como interagir num ambiente acadêmico, com pessoas das quais discordamos.

Pugnacidade

Lewis comprazia-se em discórdias e debates. George Watson, que assistiu palestras de Lewis em Oxford e mais tarde trabalhou ao lado dele na Universidade de Cambridge, recorda como “Lewis era um cristão conservador a partir de seus trinta anos mais ou menos, o que significa antes que eu o conhecesse; e já que eu não sou nem uma coisa nem outra, nunca houve qualquer questão da influência doutrinária. Se eu não era exatamente um amigo, muito menos era um discípulo. Isto em nada alterou minha sensação de admiração e afeto (…) Ambos florescíamos com a discórdia (…) O melhor professor e melhor colega que já tive, ele não requeria ou esperava que eu partilhasse de suas convicções.”

Outro estudante, Derek Brewer, se lembra de como Lewis às vezes dizia, em meio a um tutorial, “Não posso discordar mais!” mas não de uma forma que indicasse que se sentisse ofendido ou que Brewer estivesse de alguma forma sem fundamento para defender a opinião que Lewis considerada equivocada. Brewer observou que Lewis não cedia à tentaçāo de uma “exclusividade moralizadora”. Embora muitas vezes eles discordassem, isto levava a uma “dicotomia frutífera de atitudes”, e não a um esfriamento de sua relação pedagógica.

W.J.B. Owen afirma que o objetivo de Lewis era ajudar seus alunos a melhor desenvolverem seus pontos de vista e não principalmente a mudarem seus pontos de vista para que fossem mais próximos aos seus. Lewis, que não era socialista, selecionou John Lawlor para uma bolsa de estudos para Oxford (Lawlor relembra), apesar de ter “à sua frente meus escritos clamorosamente socialistas.”

Tal como era com estudantes vivos, era também com autores mortos: tinha a mente aberta para autores cujo trabalho considerava moralmente condenável (por exemplo, Marlowe e Carlyle) e nunca disse a seus alunos para não lê-los. “Não havia nada paranóico nele”, diz Brewer.

Roger Poole observa como essa mente aberta não refletia apenas uma preferência pessoal e moral, mas também uma estratégia intelectual deliberada na abordagem de Lewis para o estudo da literatura. A crítica literária não é uma habilidade quantificável; não pode ser “modular”. Portanto, era necessário muito diálogo, com muitas perspectivas diferentes: “Ele continuamente inquiria, tanto a si mesmo e a seus ouvintes, como aquilo poderia ser aprendido, adentrado ou compreendido existencialmente.”

“O que ele buscava era convicções racionais”, comenta Brewer. “Estava sempre “pensando por sua vida “, para usar a frase que utilizou uma vez com aprovação, em relação ao professor de Oxford Gilbert Ryle, o grande filósofo ateu de sua época.”

Magnanimidade

O fato de que Lewis podia anuir a um ateu como Ryle, bem como desfrutar da companhia de liberais como Watson e socialistas como Lawlor, reforça o argumento de Brewer de que Lewis não permitia que divergências se tornassem pessoais. Ele conseguia sempre distinguir o homem de sua opinião, e sabia a diferença entre uma discussão e uma briga. Não se permitia ser enredado numa agressão, mas se necessário, puxava a rédea de uma discussão com um sorriso e concordando em discordar.

Ele conseguia sempre distinguir o homem de sua opinião, e sabia a diferença entre uma discussão e uma briga (…) Suas paixões gêmeas eram pessoas e argumentos, mas ele raramente cometia o erro de confundi-las.

Sua controvérsia escrita pública sobre literatura com E.M.W. Tillyard (mais tarde publicada como “The Personal Heresy” [A heresia pessoal]) foi efetuada com combatividade mas sem caráter pessoal. E embora Lewis tenha se posicionado contra os argumentos de outro colega, F.R. Leavis, com grande contundência nas páginas de “An Experiment in Criticism” [Um Experimento em Crítica], nunca chamou Leavis pelo nome nestas páginas, mas atenciosamente encobriu seu adversário num manto de anonimato cuidadosamente elaborado.

Watson novamente:

Suas paixões gêmeas (…) eram pessoas e argumentos, mas ele raramente cometia o erro de confundi-las. Pessoas boas podem acreditar em coisas más (…) tal como em guerras raciais e guerra de classes. Lewis conseguia ser educado e até mesmo amigável, com essas pessoas. O que despertava sua mordacidade era a opinião malvada. Certa vez disse para J.B.S.Haldane, um cientista comunista que havia aclamado a União Soviética por ter abolido Mamom, que um barão saqueador capitalista, é pelo menos melhor do que um inquisidor, visto que a ganância é mais fácil de satisfazer do que a certeza dogmática (…) Contou para Haldane que ele havia vivido infeliz num internato escolar “num mundo onde Mamom havia sido banido” e onde os favores eram adquiridos por servilismo ou força bruta. “Foi o que de mais perverso e miserável experimentei.” A analogia entre o comunismo e um internato é instrutiva, mas o objetivo é ser potente sem ser ofensivo; trata-se do comunismo, e não de um comunista chamado Haldane.

Segundo Watson, Lewis rejeitava a muitos dogmas, mas raramente àqueles que os retinham. Tinha “vigor sem veneno; era generoso. “

Brewer confirma este ponto de vista: “Uma de suas características mais notáveis ​​como homem, mas também como professor, era sua magnanimidade, sua generosa aceitação da variedade e de diferenças, certo de seus próprios padrões, mas tolerante com os dos outros, bem como das falhas dos outros.”

Corrigibilidade

Mas essa magnanimidade não veio naturalmente ou de uma só vez. No início de sua carreira, Lewis era um pouco intimidador, e vários de seus primeiros alunos (o mais famoso destes, o futuro poeta laureado John Betjeman) não floresceram sob esse regime. Por volta dos trinta e poucos anos, no entanto, Lewis percebeu que estava em perigo de se tornar “um fanático endurecido gritando com cada um até que não tivesse mais amigos” (como escreveu a seu amigo Arthur Greeves): “Você não tem ideia de quanto de meu tempo passo apenas odiando as pessoas de quem discordo”.

Portanto, Lewis passou da combatividade à magnanimidade por meio da corrigibilidade.

Alistair Fowler observa que “quando eu o conheci, ele geralmente já se lembrava de evitar a intolerância. Sua disposiçāo para controvérsias era pura alegria ao debater; ele nunca me intimidou. Assim, Lewis passou da combatividade à magnanimidade por meio da corrigibilidade. Ele teve a dolorosa descoberta de que tinha falhas e aprendeu tanto a admitir quando cometesse erros e a se corrigir publicamente. Num debate com o Dr. Norman Pittenger, Lewis não só admitiu “alguma verdade em sua acusação de apolinarianismo”, mas também reconheceu ter utilizado “a palavra 'literalmente' quando realmente não queria dizer isto, um vil cliché jornalístico que não se pode reprovar mais severamente do que eu mesmo o faço agora.”

O exemplo mais notável de Lewis reconhecer um erro, foi as correçoões que fez em seu livro “Milagres”, após a filósofa Elizabeth Anscombe ter dissecado suas deficiências em debate no Socratic Club, o grupo de discussão em Oxford do qual Lewis era presidente.

O fato de que pudessse anunciar sua 'mea culpa”, indicava, na visão de Anscombe, sua “honestidade e seriedade.” Embora gostasse de se envolver em “competições de inteligência” (de acordo com o colega Adam Fox), Lewis não estava interessado em disputas pelo prazer da disputa. Ao final, a verdade estava em jogo e a verdade era importante para ele; considerava um refinamento sem fim, muito cansativo.

Ao final, a verdade estava em jogo e a verdade era importante para ele; considerava um refinamento sem fim, muito cansativo.

Logo, sua tolerância por opiniões que considerava equivocadas não pode ser facilmente ridicularizada como superficial ou vaga. Ao contrário, pode ser atribuída à sua crença de que “os meus próprios olhos não são o suficiente para mim” (conforme disse em “An Experiment in Criticism” [Um Experimento na Crítica]). Sabia que necessitava de outras perspectivas para complementar, aliviar e corrigir sua própria perspectiva. E esta atitude de coração aberto não era apenas uma persona que adotou para fins profissionais; pois também influenciava suas amizades mais próximas. Deixo a última palavra ser de George Watson:

Ele nem sequer partilhava a opinião de amigos, como Tolkien, em matéria de literatura ou religião, ou pelo menos nem sempre, mas ficava contente em compreender a natureza frutífera de suas divergências(…) Mas chegar a um lugar de acordo estragaria o jogo, e ao debater, Lewis tentava manter as divergências tanto quanto pudesse, e às vezes até mais. Se algum dia me perguntassem sobre o que aprendi com ele, esta seria minha resposta: a arte de discordar (…) Eu já gostava muito da argumentaçāo antes de conhecê-lo, mas conhecê-lo me ajudou a argumentar com um propósito mais firme e uma graça maior.

Nota do Editor: Este artigo foi publicado em Intercollegiate Review. 

Traduzido por Suzana L. Braga

Is there enough evidence for us to believe the Gospels?

In an age of faith deconstruction and skepticism about the Bible’s authority, it’s common to hear claims that the Gospels are unreliable propaganda. And if the Gospels are shown to be historically unreliable, the whole foundation of Christianity begins to crumble.
But the Gospels are historically reliable. And the evidence for this is vast.
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