×

23 de janeiro de 2017

Na parte antiga de Genebra, na Suíça, há um lindo parque adjacente à Universidade de Genebra, perto da igreja onde João Calvino pregava e ensinava diariamente. O parque contém um memorial permanente à Reforma Protestante do século XVI. O atributo central deste memorial é uma parede magnífica, decorada com estátuas de Calvino, John Knox, Ulrico Zwinglio, Theodoro de Beza, e outros. Esculpidas na pedra em Latim, estão as palavras “Post tenebras lux (“Após as trevas, luz”).

Estas palavras captam a força motriz da Reforma. A escuridão à qual se referem é o eclipse do evangelho na última parte da Idade Média. Um escurecimento gradual atingiu o seu ponto mais baixo, e a luz da doutrina sobre a justificação somente pela fé, foi quase que totalmente extinta.

Combustível Para o Fogo

A tempestade da Reforma foi impulsionada pela questão mais volátil já debatida na história da igreja. A igreja havia enfrentado crises graves no passado, especialmente nos séculos IV e V, quando a natureza de Cristo estava em debate. A heresia ariana do século IV culminou no Concílio de Nicéia e no Credo de Nicéia. O quinto século testemunhou a luta da Igreja contra o monofisismo e as heresias nestorianas, o que resultou na declaração clara do Concílio de Calcedônia a respeito da humanidade e da divindade de Cristo. Desde Nicéia e Calcedônia, as decisões ecumênicas destes conselhos sāo referências para a ortodoxia cristã histórica. Desde aquela época, as doutrinas da Trindade e da união das naturezas divina e humana de Cristo sāo consideradas, quase que universalmente, como dogmas essenciais da fé cristã.

Cada geração, através da história da igreja, tem visto lutas e debates doutrinários. Heresias de toda espécie concebível têm atormentado a igreja e provocado discussão feroz, e até mesmo cismas.

Mas jamais uma controvérsia doutrinária foi contestada com mais força ou com tais consequências a longo prazo, como aquela sobre a justificação. Houveram outras questões relacionadas que foram debatidas no século XVI, mas nenhuma foi tão central ou acalorada quanto esta.

Jamais uma controvérsia doutrinária foi contestada com mais força ou com tais consequências a longo prazo, quanto aquela sobre a justificação. 

Os historiadores frequentemente descrevem o tema da justificação como a causa material da Reforma. Ou seja, era a questão substantiva e central do debate. Foi esta doutrina que levou à ruptura mais profunda da cristandade e à fragmentação da igreja em milhares de denominações.

Sola Fide ou Morte 

Como uma controvérsia sobre uma doutrina poderia causar tantas dissidências e provocar tanta hostilidade? Foi simplesmente um caso de conflito entre teólogos contenciosos, estrepitosos e belicosos, inclinados a tornar assuntos triviais em guerra? Foi um caso de repetidos mal-entendidos que provocaram uma tempestade em um copo d'água – muito barulho por nada?

Sabemos como Martinho Lutero se sentia a respeito da controvérsia. Ele chamou a justificação pela fé “o artigo sobre o qual a igreja permanece ou cai” (articulus stantis et cadentis ecclesiae). Esta afirmação de sua importância central é ligada à identificação que Lutero fez da justificação somente pela fé (sola fide) com o evangelho. As “boas novas” do Novo Testamento incluem não apenas um anúncio da pessoa de Cristo e sua obra em nosso favor, mas também uma declaração de como os benefícios da obra de Cristo são apropriados pelo crente, no crente e para o crente.

Rejeitar a justificação somente pela fé é rejeitar o evangelho, e desabar como igreja.

A questão de como a justificação e a salvação são recebidas se tornou o ponto fundamental do debate. A insistência de Lutero na Sola Fide era baseada na convicção de que o “como” da justificação é integral e essencial ao próprio evangelho. Ele via a justificação somente pela fé como necessária e essencial ao evangelho e à salvação.

Visto que o evangelho está no centro da fé cristã, Lutero e outros reformadores consideravam o debate sobre a justificação como algo que envolvia uma verdade essencial do cristianismo, uma doutrina não menos essencial do que a da Trindade ou das duas naturezas de Cristo. Sem o evangelho, a igreja desaba. Sem o evangelho, a igreja não é mais a igreja.

Os reformadores seguiram essa lógica:

A justificação somente pela fé é essencial ao evangelho.
O evangelho é essencial ao cristianismo e à salvação.
O evangelho é essencial para uma igreja ser uma igreja verdadeira.
Rejeitar a justificação pela fé é rejeitar o evangelho e desabar como igreja.
Empurrando as Trevas Para Trás 

Os reformadores concluíram que quando Roma rejeitou e condenou a Sola Fide, condenou-se a si mesma e deixou de ser uma igreja verdadeira. Isso precipitou a criação de novas comunhões ou denominações, que buscam continuar o cristianismo bíblico e serem verdadeiras igrejas com um verdadeiro evangelho. Buscavam resgatar o evangelho da ameaça iminente de eclipse total.

A metáfora do eclipse é útil. Um eclipse do sol não destrói o sol; ele o obscurece. Traz trevas onde havia luz. Os reformadores tentaram remover o eclipse para que a luz do evangelho pudesse brilhar novamente em seu brilho total e ser vista com clareza.

A vida da igreja protestante do século XVI estava longe de ser perfeita, mas o renascimento da piedade naquela época atesta o poder do evangelho quando visto em plena luz.

Nota do editor: Este é um trecho adaptado do livro mais recente de R. C. Sproul, “Faith Alone: ​The Evangelical Doctrine of Justification [Somente a Fé: A Doutrina Evangélica da Justificação] (Baker, 2017). É republicado aqui com permissão.

Traduzido por Joāo Pedro Cavani

Is there enough evidence for us to believe the Gospels?

In an age of faith deconstruction and skepticism about the Bible’s authority, it’s common to hear claims that the Gospels are unreliable propaganda. And if the Gospels are shown to be historically unreliable, the whole foundation of Christianity begins to crumble.
But the Gospels are historically reliable. And the evidence for this is vast.
To learn about the evidence for the historical reliability of the four Gospels, click below to access a FREE eBook of Can We Trust the Gospels? written by New Testament scholar Peter J. Williams.
LOAD MORE
Loading